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MARUÍ ACTIVITIES CENTER

2018

Project for Atelier at Revitalization and Restoration in Architecture

Team: Federica Linares, Júlia de Queiroz, Luísa Linden and Louis Briac

Location: Antiga Estação Ferroviária do Maruí, Barreto, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil

Orientation: João Calafate, Ana Paula Polizzo, Ernani Freire, Dely Bentes, Geraldo Filizola and Rodrigo Azevedo

Esvaziado, perdido, desconectado.

 

Um complexo ferroviário abandonado ao descaso do tempo e de políticas públicas. Deixado sem intenção alguma, passivo em suas memórias e sujeito a ocupações insurgidas em um local sucateado. Um espaço constantemente reconfigurado a cada camada temporal que o abrange. Reage; para cada acréscimo, um decréscimo, para cada vazio, um cheio.

 
O complexo deixou de ser sujeito para estar sujeito à.

 

Sua presença não é mais definida pela ocupação a margem de trilhos, mas é exatamente a ausência da estação viva que o define. Seu crescimento, ora definido pela existência da estação de trem, hoje acontece por si só. O abandono dos trilhos o tornou dessa comunidade protagonista em um espaço onde era, anteriormente, coadjuvante. O descaso gerou um espaço desprezado, atraindo também uma população que viu nele lugar para si. Seu futuro envolve possíveis trilhos da linha 3, que irão se colocar de forma a dialogar com a comunidade na cidade, uma troca em proporções urbanas

Desta forma, através da reativação do complexo ferroviário abandonado, o projeto prevê uma intervenção que será fruto desta comunidade, atendendo às suas necessidades evidentes. Busca-se a leitura de um pro-grama existente, a concretização de uma identidade perdida na sobreposição dos tempos. Para isso, visamos responder ao contexto atual, inserindo em nosso projeto a proposta de uma linha 3 subterrânea.


A intervenção deve ser capaz de desfrutar das condições locais para reviver e unir novamente objetos esvaziados e afastados. Para isso assume os principais problemas locais: acúmulo de vazios, passagem cortante e planície alagável como diretrizes. Busca, através da articulação desses elementos pré-existentes, uma reinterpretação que se realize num grande espaço de encontro e troca interpessoal.

As renovações acontecem adentrando os antigos espaços, acrescentando a eles uma nova camada temporal, capaz de se colocar junto das demais, mas destacando-se de forma clara e legível. Esta, deve re-presentar a contemporaneidade e reivindicar um programa que responde às necessidades atuais.

Na ruína do antigo galpão de abastecimento, uma nova pavimentação de concreto abrange todo o espaço. Um palco elevado a 80cm do chão, de estrutura metálica e piso em madeira, transforma a área de passagem em um lugar capaz de receber novas atividades por apropriação. Este gesto, porém, transborda do galpão através dos seus arcos, abastecendo um novo traçado e fornecendo um novo elemento que procura costurar as inúmeras camadas temporais que atingem o local.

O caminho iniciado percorre o vale, reconfigurando um espaço que o tempo deixou vulnerável, costurando o complexo e aflorando sua vitalidade. Seu traço flui, permeando a comunidade e dando a ela uma nova rota de circulação. Este traço é desenha-do pelo concreto, e afirmado por elementos de aço e madeira.

Ao longo do percurso, onde o espaço existente permite, a apropriação cresce. Em frente ao campinho de futebol, a pavimentação em concreto se alarga, e uma arquibancada er-guida em aço e revestida em madeira marca a uma nova permanência. Em outros momentos, onde o espaço já foi devidamente apropriado, ela se reduz a detalhes de iluminação e pavimentação.

O desenho do caminho resulta do espaço em que se insere; da topo-grafia e da ocupação local. Introduz consigo uma biovaleta, que se apresenta como solução para o problema de alagamento persistente na região. O elemento, capaz de realizar drenagem e criar paisagismos, vem a ser uma característica constante da nova linha temporal.

Eventualmente, a linha alcança um espaço mais amplo, onde se situam a antiga estação e seu anexo. Este espaço, rico em me-mória, porém mais vulnerável. Cabe a ele, novos e existentes programas que atenderão a comunidade, agora protagonista.

A linha contínua, adentra a estação e a torna parte de sua costura. Dentro dela, se manifesta, reage ao movimento de massa da sobreposição de tempos e o transforma em espaço; direciona fluxos, setoriza áreas e delimita usos para os diferentes ambientes.A intervenção ganha peso e se assume completando espaços já existentes. 


As portas por onde trens chegavam e saíam são abertas por completo, inaugurando um novo espaço interno. Nele, uma resposta para anseios locais: um grande centro de atividades, equipado para receber aulas de dança, luta, jogos, recreação infantil, uma cantina, um vestiário e um espaço destinado a associação de moradores.


O vazio, antes ocupado pelos trilhos, encontra-se esvaziado de uso. O projeto busca, então, reativar seu significado, o tornando elemento principal do novo espaço. Desta forma, preenche-o parcialmente com uma grande piscina comunitária. A outra parte será utilizada como palco, onde se concentram muitas das atividades designadas ao local. Desta forma, o vazio dos trilhos será espaço central de ocupação ao longo de toda a sua extensão, de forma que seja resignificado através de usos de escala local. 

Cria-se, também, um primeiro pavimento para momentos de maior reclusão e, ainda um terraço entre as coberturas do momento principal da estação. Este, em meio ao emaranhado de coberturas, revela uma complexidade de telhados proporcionando ao usuário uma experiência interativa e visual de todo o espaço, desvelando uma nova perspectiva.

A intervenção, porém, não alcança da mesma forma a pequena área onde ocorria a entrada principal da estação, junto com a compra de bilhetes. Esta, é delicadamente preservada como contemplação da memória do local. Para isso, mantém-se os antigos pilares, agora soltos, e uma escada original que caracterizam o ambiente.

Em seguida, pela lateral, a linha atravessa a estação principal, avançando ao antigo anexo. Ao sair, ela ganha área e depois volume, es-tendendo-se de um objeto ao outro, em forma de um grande platô de madeira, consolidando um espaço entre os dois objetos. Dentro do anexo, ela cresce brutalmente, atingido o subsolo e marcando a linha 3 do metrô. Não se limita, avança. Desconstrói a antiga cobertura do anexo e aumenta o espaço para abrigar pequenos comércios. Poupa a antiga fa-chada, que persiste e define uma interrupção; dois tempos, um espaço.

Percebemos um grande potencial urbano de ligações viárias em nosso projeto devido em boa parte a sua localização. Dessa forma, além de projetarmos a estação de metrô da futura Linha 3 no epicentro de nos-so complexo e uma ciclovia que liga junto ao caminho nossos objetos de intervenção, também designamos em terreno próximo, onde hoje há uma antiga fábrica abandonada e um grande muro depredado, um terminal de ônibus de pequeno porte, criando assim uma intermodalidade de extrema importância ao acesso de todos aos serviços que projetamos.

Por fim, a linha constrói. Ganha dimensões próprias e ergue--se como um novo espaço, destinado a oficinas de trabalhos manuais, como carpintaria e cerâmica  e proporcionando um amplo es-paço de aproximados 300 metros quadrados para eventos locais.
Trata-se, de um edifício leve, de estrutura metálica e cobertura de uma água voltada para a biovaleta. Este, seguindo a altura das passarelas e patamares dos outros objetos, é 80 cm elevado do chão. Posiciona-se, inicialmente, paralelo aos demais objetos, mas termina desalinhado, dialogando com o estreitamento do terreno. Essa   dobra  cria  um  grande espaço articulador  dos  três  objetos.

O equipamento coloca-se, portanto, como uma conclusão para o projeto, amarra a linha que busca costurar novamente o contexto em que percorre. É o ápice da intervenção e potência de uma in-tenção iniciada nas ruínas de um antigo galpão de abastecimento.

Por fim, permeando a todo o projeto, há a presença da água. Desde o uso de água salinizada na manutenção da piscina, diminuindo custos com limpeza e mais diretamente remetendo ao antigo uso das águas da Baía da Guanabara como balneário na região; até a coleta, filtragem e reúso de água da chuva.

julia.queica@gmail.com | +55 21 981686138

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